Varejo, tão importante para a economia do país, começa a evidenciar os sinais de aguda retração econômica. Os economistas não aceitam que se fale em recessão, porem, sabe o que nós vimos? Gente passeando pelos malls e contemplando vitrines, mas, onde estão as sacolas?
É sério e desapontador porque, até pouco tempo atrás, ainda havia quem, sobretudo no governo, alimentava a ilusão de crise passageira e pela qual o Varejo passaria, praticamente, imune. Sabe que, por incrível que pareça, acreditavam que o tamanho da população urbana, as diferenças regionais e de poder aquisitivo resultaria em um Varejo mais acanhado, porem, ainda com certa pujança.
Pura ilusão, cedo ou tarde, o Varejo seria alcançado pela contenção de gastos. Primeiro, pela carência de recursos diante da escalada dos preços e, na sequência, pela prudência daqueles com maior poder aquisitivo buscando resguardar-se. Ou seja, enquanto um vasto contingente lamentavelmente cancela compras, outro as posterga! O efeito é o mesmo: prateleiras cheias, por enquanto, e lojas vazias.
Mas, há outra preocupante consequência. O Varejo no Brasil, assim como em muitos outros países, é o gerador de postos de trabalho para aqueles de limitada qualificação ou recém ingressos no mercado de trabalho. O Varejo sempre foi a acolhedora porta de entrada, o caminho através do qual a renda propiciada viabiliza estudos e desenvolvimento posterior. As lojas estão de portas abertas, contudo, esta porta de ascensão econômica e profissional parece estar cerrada. Por quanto tempo?
O Setor de Varejo assim como a grande maioria das atividades da economia de nosso país vem sofrendo apertos decorrentes das pressões inflacionárias, aumento do desemprego e redução do consumo, exigindo das empresas maior eficiência na gestão de custos e estoques. O grande desafio para o setor no momento é o equilíbrio entre giro e margem operacional visando assegurar ao comércio varejista o básico do negócio: comprar/vender para obter resultado.
Uma pesquisa realizada com uma amostra de 11 companhias abertas varejistas tendo como base as demonstrações contábeis consolidadas (exceto Restoque) e dados do setor permite fazer uma radiografia sobre os últimos cinco anos e sobre o primeiro trimestre deste ano.
A primeira observação é sobre a distribuição da receita. Em 2014 cerca de 75% das vendas foram concentradas em apenas três das onze companhias da amostra, a saber: Pão de Açúcar (47,20%), Viavarejo (16,33%) e Lojas Americanas (11,63%), evidenciando uma forte concentração neste segmento de negócios.
Nos exercícios de 2010 a 2014 praticamente todas as companhias tiveram receitas crescentes, embora algumas com resultados desfavoráveis como B2W (4 últimos anos com prejuízo), Lojas Marisa (quedas em 2013 e 2014), Magazine Luiza (prejuízo em 2013, mas em recuperação) e Restoque (prejuízos nos dois últimos anos).
Na comparação do 1º trimestre de 2015 com igual período de 2014 o quadro não é tão animador e está sendo considerado o pior momento do setor nesta década. Pelo agregado da amostra, sem descontar a inflação, as receitas totais cresceram 14% enquanto que os resultados líquidos totais diminuíram 4,5%:
- B2W: embora com recuperação amargou prejuízos semelhantes nos dois trimestres, mostrando que o comércio eletrônico ainda não decolou no nosso país;
- Cia. Hering, Lojas Marisa e Magazine Luiza tiveram queda tanto nas vendas quando no resultado líquido, sinal de preocupação no curto prazo;
- Lojas Americanas teve um lucro pequeno em 2014 e também pequeno prejuízo neste ano;
- Pão de Açúcar teve queda de 26% no resultado líquido e Viavarejo leve queda nas vendas;
- Restoque apresentou boa recuperação saindo de prejuízo em 2014 (R$ 438 mil) para um lucro de quase R$15milhões no 1º trimestre de 2015;
- Destaques positivos nesse período ficam com Riachuelo e Lojas Renner que auferiram receitas e resultados crescentes e significativos, reflexo provável de boa administração do negócio.