“Os homens lutarão por valores sempre que os compartilharem” Jacques Attali, economista francês
No dia 03/Mar/2016 a Abrasca – Associação Brasileira das Sociedades de Capital Aberto – realizou no auditório da BM&FBovespa, em São Paulo, um evento sob a forma de workshop denominado “Criação de Valor em Ambiente de Baixo Crescimento”. Não por acaso neste mesmo dia foi divulgada a queda recorde na atividade econômica brasileira: em 2015 o PIB recuou 3,8% em relação a 2014 (+0,1%), a maior retração em 19 anos, quando se iniciou a série histórica do IBGE.
Para nós da SABE Consultores foi uma grande satisfação auxiliar a Abrasca a desenvolver uma metodologia de cálculo para seleção de empresas candidatas ao “Prêmio Criação de Valor 2015”. Para isso contamos com os recursos de nosso Banco de Dados SABE que forneceu o suporte a um processo de seleção de companhias em cinco etapas sucessivas obedecendo a critérios quantitativos e qualitativos. Atenderam aos critérios finais de seleção e indicação 11 companhias como as que mais criaram valor entre todas as avaliadas e por setor de atuação sendo finalistas para o Prêmio Abrasca de Criação de Valor e o Prêmio Destaque Setorial de Criação de Valor, no período de cinco anos: 2010 a 2014.
De acordo com a metodologia desenvolvida a Weg foi a grande vencedora do Prêmio. Juntamente com as demais vencedoras por destaque setorial estas 11 companhias apresentaram desempenhos ao longo de cinco anos que mostrou ao mercado ser possível criar valor em ambiente de baixo crescimento.
Todas as 11 empresas alcançaram valorização superior ao do Ibovespa (-28,35%) no período de 31/Mar/2011 a 04/Mar/2016. Se considerarmos o conjunto destas 11 companhias como uma carteira de ações com pesos iguais podemos inferir naquele período uma valorização de 92%, superando o Ibovespa em 120 ppt. Entretanto, vale, como sempre, o registro de que valorização passada não é garantia de rentabilidade futura.
As 11 companhias premiadas distribuíram valor adicionado próximo a R$75 bilhões por ano na média do período de 2010 a 2014. A Demonstração do Valor Adicionado (DVA) evidencia os valores correspondentes à formação da riqueza gerada pela empresa em determinado período e sua respectiva distribuição. A riqueza gerada pela empresa, medida no conceito de valor adicionado, é calculada a partir da diferença entre o valor de sua produção e o dos bens e serviços produzidos por terceiros utilizados no processo de produção da empresa.
O Valor Adicionado pode ser usado como índice de avaliação do desempenho social à medida que demonstra, na distribuição da riqueza gerada, a participação dos Empregados, do Governo, dos Agentes Financiadores e dos Acionistas. O gráfico a seguir ilustra a distribuição média do valor adicionado pelas 11 companhias premiadas no período de 2010 a 2014. A maior fatia da pizza coube aos empregados das companhias e em segundo lugar aos acionistas.
A criação de valor tornou-se um tema de grande relevância e complexidade no mundo atual tendo em vista a visão mais ampla sobre o papel da empresa na sociedade. A visão clássica pregava que a responsabilidade social de uma empresa era a de maximizar o lucro dentro de uma ótica imediatista voltada exclusivamente para o acionista. Numa visão moderna a empresa deve possuir um propósito capaz de beneficiar clientes, colaboradores, investidores, comunidades, fornecedores e meio ambiente. Empresas bem administradas e preocupadas com valores podem contribuir para a humanidade de forma mais tangível do que qualquer outro tipo de organização (John Mackey – O Capitalismo Consciente).
COMENTÁRIOS FINAIS:Sob a ótica financeira tradicional a criação de valor é o resultado do lucro obtido pela venda de produtos/serviços pela empresa e é a base para que o empreendimento possa desempenhar suas atividades e continuar operando e gerando lucro empresarial para seus donos. Seguindo esta linha, a criação de valor deve ser um resultado econômico e financeiro positivo para que a empresa possa continuar existindo e crescendo.
De acordo com Oscar Malvessi, professor da EAESP-FGV, a criação de valor na ótica da governança corporativa deve ater-se a termômetros como: melhores práticas, transparência e equidade. De acordo com ele, “a mentalidade e a cultura das empresas devem acompanhar a velocidade dos acontecimentos, o que não tem ocorrido”. É preciso saber se os resultados financeiros expressivos criam valor ao acionista ou podem destruir a riqueza. Mais ainda:, é importante questionar se manter aplicações financeiras elevadas por períodos longos é uma decisão operacional e se o alinhamento de interesses entre gestores e acionistas gera valor ao acionista.
Segundo Malvessi existe falta de orientação das companhias para geração de valor em longo prazo, e que o período considerado para análise do crescimento deve ser de três a cinco anos. Durante o debate, houve consenso de que é preciso ocorrer uma mudança comportamental dos gestores. O especialista criticou a visão dos acionistas, que deveriam conhecer melhor a empresa, e, igualmente, os diretores financeiros, que não estão adequadamente atualizados. “Por um lado, o acionista é exigente, por outro, não sabe o que exige”, observou.
A SABE Consultores tem o propósito de compartilhar informações úteis e atualizadas sobre as empresas brasileiras com professores, universitários, contadores e investidores individuais. Manteremos você atualizado, como de costume, com novas informações extraídas do nosso Banco de Dados SABE.
Aproveite para deixar o seu comentário ao final desta página sobre a complexa questão da Criação de Valor pelas empresas brasileiras.
Luiz Guilherme Dias é Sócio-Diretor da SABE Consultores, Consultor de Empresas e Conselheiro Certificado.