“É uma pena que o atual sistema político-econômico esteja corrompendo muitos empresários, que ingressam relutantes na lógica do ‘capitalismo entre amigos’ por uma questão de sobrevivência” John Mackey e Raj Sisodia – Autores do livro “Capitalismo Consciente” – Editora HSM
Este artigo resume alguns trechos do livro “Capitalismo Consciente – Como libertar o espírito heroico dos negócios”, editado pela HSM, que discute o papel e a importância das empresas conscientes, que atuam de maneira a criar valor não só para si mesmas, mas também para seus clientes, colaboradores, fornecedores, investidores, comunidade e meio ambiente ou usando o jargão do momento para seus “stakeholders”.
Para os autores John Mackey e Raj Sisodia, ao longo da história nenhuma criação humana exerceu maior impacto positivo sobre tantas pessoas e com tamanha velocidade como o capitalismo de livre-iniciativa. Trata-se do “maior sistema de inovação e de cooperação social já criado, pois proporcionou a bilhões de pessoas a oportunidade de participar da grande experiência de ganhar o próprio sustento e encontrar sentido existencial por meio da criação de valor para os outros”.
Entretanto, boa parte do mundo ainda não adotou os princípios essenciais do capitalismo de livre-iniciativa e, em consequência, a prosperidade e a satisfação coletivas ainda estão aquém do que poderiam. Uma grande parte do século 20 pode ser vista como uma “guerra intelectual” entre duas filosofias sociais e econômicas diametralmente opostas: o capitalismo de livre-iniciativa (baseado em mercados e pessoas livres) e o comunismo (marcado pela ditadura e pelo controle econômico do Estado). Com todos os seus defeitos o capitalismo venceu a batalha: muitas nações viveram um rápido crescimento econômico e centenas de milhões de pessoas conseguiram escapar da pobreza. O comunismo tentou tirar as pessoas da pobreza pela coerção, mas acabou matando milhões de inocentes.
A figura seguinte ilustra o aumento de 1.000% da renda média per capita mundial desde 1.800. No Japão esse indicador cresceu 3.500% desde 1.700, nos Estados Unidos elevou-se 10.000% desde 1.800 e o mais surpreendente: na Coréia do Sul o PIB aumentou 260 vezes desde 1.960, transformando um dos países mais pobres do mundo em uma das nações mais ricas e avançadas.
Os fatores mais importantes do capitalismo de livre-iniciativa são o empreendedorismo e a inovação. A criatividade humana, em parte individual, mas, sobretudo de caráter colaborativo e cumulativo, está na raiz de todo o progresso econômico. Os empreendedores conseguem descobrir possibilidades e enriquecer a vida dos outros ao realizar coisas que jamais existiram. No mundo moderno, os empreendedores (criadores de riqueza), abrem caminhos e são tão corajosos e ousados quanto os heróis que enfrentaram dragões ou derrotaram o mal nos primórdios da civilização.
O sucesso do capitalismo de livre-iniciativa melhorando a qualidade de vida sob diversos aspectos é uma das histórias mais extraordinárias, porém pouco compreendidas, dos últimos 200 anos. Apesar de permitir a prosperidade generalizada, o capitalismo de livre-iniciativa conquistou pouco respeito entre os intelectuais e quase nenhum afeto das massas. A percepção inicial do capitalismo foi construída quase exclusivamente com base na teoria de que as pessoas abrem empresas para satisfazer os próprios interesses. Os economistas, críticos sociais e líderes empresariais muitas vezes desconsideram outro aspecto – com frequência, muito mais forte – da natureza humana: o desejo e a necessidade de cuidar dos outros e de promover causas que estão acima dos interesses individuais.
Outro fator que alimentou a desconfiança em relação ao capitalismo foi o fracasso em diferenciar a ideia mercantilista do “bolo fixo” ou do jogo de “soma zero”, do conceito capitalista de “bolo em expansão”. Grande parte da animosidade ante o capitalismo decorre do ponto de vista equivocado de que a riqueza é um patrimônio estanque a ser compartilhado por todos de forma equitativa e justa – quando, na realidade, esse patrimônio é expansível por meio da hábil combinação de recursos, trabalho e inovação. Com isso, a prosperidade de um não necessariamente implica o empobrecimento do outro. Ao contrário: se o “bolo” cresce, sobram “mais fatias” para mais pessoas.
Por outro lado perdura o renitente mito de que o propósito das empresas é maximizar a riqueza dos investidores. Os economistas clássicos perceberam corretamente que empresas bem-sucedidas eram sempre rentáveis e que, de fato, empreendedores responsáveis por operar tais negócios sempre buscavam a lucratividade. De fato, em uma saudável economia de mercado, todas as empresas precisam buscar o lucro, sem o qual não é possível fazer os investimentos necessários ao seu desenvolvimento. Além disso, empresas não rentáveis não sobrevivem por muito tempo em um mercado competitivo, pois os lucros são essenciais para a sobrevivência de longo prazo e para a expansão dos negócios.
Salvo poucas exceções, os empreendedores de sucesso nunca começam seus negócios pensando em maximizar os lucros. Obviamente eles querem ganhar dinheiro, como todos nós, mas não é isso que impulsiona a maioria deles, mas sim a paixão por realizar um sonho. Seguindo essa lógica o objetivo deixa de ser maximizar a riqueza do acionista e passa a ser maximizar um propósito, melhorando nossa vida e gerando valor para as partes interessadas.
O capitalismo tirou mais pessoas da pobreza do que qualquer outra força na história, e o fez por meio de trocas voluntárias. O comunismo tentou tirar as pessoas da pobreza pela coerção, mas acabou matando milhões de pessoas. Tirar as pessoas da pobreza nunca foi a intenção consciente das empresas, mas tornou-se o subproduto dos negócios bem fundamentados operados por empresas conscientes. A conscientização nos habilita a fazer muito melhor o que já fazemos e abre caminho para mais coletivismo, mais compartilhamento, menos desperdício, mais reciprocidade, e, paradoxalmente, para mais lucros, por engajar todos no mesmo sistema.
Concluindo, precisamos descobrir como resgatar aquilo que o capitalismo de livre-iniciativa sempre foi: o mais poderoso e criativo sistema de cooperação social e progresso humano jamais concebido. Se não formos bem-sucedidos nessa mudança, corremos os riscos do crescimento contínuo de governos cada vez mais coercitivos, da cooptação das empresas ao “capitalismo entre amigos” e do consequente prejuízo que isso causa à liberdade e à prosperidade.
O Brasil neste final de 2016 enfrenta um quadro econômico complicado: mais um ano de recessão com PIB negativo batendo 3,5%, 12 a 13 milhões de desempregados, juros elevados com previsão de fechar 2017 ainda acima de 10%, estados falidos sem condições de cortar gastos, empresas com altíssimo grau de endividamento e com restrições de crédito. A boa notícia é a queda da inflação com tendência para o centro da meta (4,5%) em 2017, mas à custa de uma forte recessão com atividade fraca e juros estratosféricos!
Temos profunda convicção que empresas conscientes e bem administradas são a força mais poderosa para criar as condições para transformar nosso país em uma economia saudável. Das 350 empresas listadas em Bolsa que acompanhamos já vislumbramos algumas, em torno de 50, que seguem os princípios de um capitalismo consciente e que vieram para ficar. Se o Governo “não atrapalhar” esse número pode dobrar em pouco tempo, criando uma onda positiva para os negócios no Brasil. Vida longa para as empresas brasileiras conscientes!
A SABE Consultores tem o propósito de “organizar informações financeiras sobre as empresas brasileiras e torná-las acessíveis e úteis” e acredita que as empresas conscientes atuam de maneira a criar valor não só para si mesmas, mas também para seus clientes, colaboradores, fornecedores, investidores, comunidade e meio ambiente ou usando o jargão do momento para seus “stakeholders”. Manteremos você atualizado com novas informações extraídas do nosso Banco de Dados SABE.
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Luiz Guilherme Dias é Sócio-Diretor da SABE Consultores, Consultor de Empresas e Conselheiro Certificado.