Inspirados em matéria publicada no jornal O Globo em 21/Jul/2016 sob o título “Problemas com grandes empresas afetam balanços de bancos brasileiros”, resolvemos escrever este artigo. Na referida matéria é apresentado um estudo feito pela agência de risco Austin Ratings, especializada em bancos, apontando o impacto nos balanços dos bancos no 1T2016, decorrentes dos “tombos” de grandes companhias como OAS, Odebrecht, Sete Brasil e Oi, configurando um cenário econômico ruim para os bancos.
No artigo publicado em nosso blog em Mai/2016 sob o título “Temporada de Balanços 1T2016: Resultados das empresas aumentam e dos bancos diminuem”, comentamos o desempenho de resultados líquidos de 292 Empresas e 22 Bancos, tendo como base as demonstrações financeiras individuais de companhias abertas listadas na bolsa. A conclusão foi que no conjunto tivemos uma surpresa: comparando os totais dos desempenhos do 1º trimestre de 2016 contra igual período do ano anterior, percebemos que os resultados das empresas aumentaram 56,5% (de R$9,5 bilhões para R$14,9 bilhões) enquanto que os resultados dos bancos encolheram 23,9% (de R$17,6 bilhões para R$13,4 bilhões).
Voltando ao tema refizemos o estudo usando as demonstrações financeiras consolidadas e observamos além do resultado líquido a rentabilidade do acionista (ROE) para as companhias abertas de nosso Banco de Dados SABE. Mesmo considerando se tratar de amostra distinta do estudo apresentado na matéria publicada no Globo, a conclusão é semelhante, como demonstrado nas planilhas a seguir:
De fato: do 1º trimestre de 2015 para o 1º trimestre de 2016, no conjunto das Empresas, o resultado cresceu 45% (de R$21 bilhões para R$30 bilhões) e o ROE (retorno do acionista) subiu 0,68 pontos percentuais (de 1,39% para 2,06%). Por outro lado, no mesmo período, no conjunto dos Bancos o resultado diminuiu 23%(de R$17 bilhões para R$13 bilhões) e o ROE (retorno do acionista) encolheu 1,36 pontos percentuais (de 4,82% para 3,46%).
COMENTÁRIOS FINAIS:O fato dos resultados agregados das empresas não financeiras ter melhorado não é ainda um sinal de recuperação, infelizmente. Uma análise mais minuciosa comprova: empresas como Vale, Suzano, Klabin, Fibria, Gol, Latam, Embraer e Bradespar reverteram seus prejuízos do 1T2015 para lucros no 1T2016, a maioria aproveitando os efeitos do câmbio. mas mantendo elevados níveis de endividamento.
Quando o cenário econômico é ruim para os bancos percebemos um sintoma ruim para o conjunto das companhias: as empresas precisam renegociar suas dívidas num momento de juros elevados e créditos escassos, ao mesmo tempo em que os bancos reduzem seus empréstimos e passam a se concentrar em controle de inadimplência e renegociação de contratos.
Um sinal de alerta é fornecido pelo elevado aumento de 88% (de 492 para 923 ocorrências) nos pedidos de recuperação judicial ocorrido no 1º semestre de 2016 contra o mesmo período de 2015, caracterizando um recorde desde a criação da Nova Lei de Falências de 2005, segundo a Serasa Experian. Outro sinal de alerta é dado pelo aumento de 37% nas provisões para devedores duvidosos (muitos destes por conta da Operação Lava a Jato) que 25 dos maiores bancos fizeram de 2014 para 2015 (de R$97 bilhões para R$133 bilhões), segundo informações da Fitch Ratings. Felizmente nem todas as companhias foram afetadas pela Lava a Jato.
Esperamos que a temporada de balanços do 2T2016 traga melhores sinais de recuperação de nossa economia. A SABE Consultores tem o propósito de compartilhar informações úteis e atualizadas sobre as empresas brasileiras. Manteremos você atualizado com novas informações extraídas do nosso Banco de Dados SABE.
Aproveite para deixar o seu comentário ao final desta página sobre o nosso Artigo. Luiz Guilherme Dias é Sócio-Diretor da SABE Consultores, Consultor de Empresas e Conselheiro Certificado.