Finalmente, quase ao apagar das luzes, após quase cinco meses do encerramento do exercício – cujo atraso acarretou sérias e altamente desagradáveis consequências para a empresa, funcionários, acionistas, fornecedores e, claro, para todos nós brasileiros – a Petrobras publicou em 22.04.2015 seu balanço para o exercício encerrado em 31.12.2014.
A Petrobras enfrenta atualmente três grandes desafios: recuperar as perdas (R$6 bilhões) causadas pela corrupção, equilibrar o elevado endividamento líquido (R$332 bilhões até 30/mar) e as finanças com o reduzido preço do barril de petróleo no mercado internacional e profissionalizar a gestão de negócios e a governança corporativa. Nosso entendimento é que o terceiro desafio é o mais importante para que a companhia resgate o valor de mercado e a confiança dos seus stakeholders. Uma estratégia que vem sendo discutida no mercado é a de reduzir investimentos e o gigantismo de negócios complementares não essenciais, muitos dos quais com prejuízos, e concentrar o foco no negócio principal: exploração e produção de petróleo, perseguindo a meta para 2020 de 5 milhões de barris por dia, mais que o dobro do patamar atual. Embora seja difícil executar tal estratégia, especialmente pela resistência do acionista controlador (Governo Federal), a nova administração e o novo conselho passaram a ter uma saída concreta para a enorme crise que a companhia enfrenta. A boa notícia é que o atual presidente tem experiência em “destravar” valores camuflados como foi o caso da BB Seguridade, que abriu o capital em 2013 e hoje está avaliada em cerca de R$70 bilhões.
Resta agora saber como a Petrobras vai planejar seus negócios futuros, incluindo desinvestimentos, relação dívida/geração de caixa, oportunidades de alianças estratégicas, dentre outras iniciativas necessárias à sua tão desejada recuperação.
Acompanhe o que nosso acervo de dados e informações tem a desvendar e entenda o que os demonstrativos contábeis e as notas explicativas mostraram. Mas, sobretudo, veja o que deixaram de mostrar....
- De 2010 a 2014 a taxa composta anual de crescimento (CAGR) foi extremamente baixa para o patrimônio líquido (0,04%), resultado bruto (1,03%) e muito elevada para o endividamento total (23,16%);
- De 2010 a 2014 a companhia apresentou médias muito pequenas nos indicadores retorno do ativo (3,16%) e retorno do acionista (8,55%). Para uma companhia integrada do setor de petróleo estes retornos esperam ser, respectivamente, de 15,99% e 16,83% (Damodaran);
- Por outro lado, nesse mesmo período, o endividamento total cresceu assustadoramente de R$210 bilhões para R$483 bilhões, correspondendo a um CAGR de 23,16%; no 1º trimestre de 2015 o endividamento total alcançou R$526 bilhões; Só em juros, a Petrobras tem de pagar US$5 bilhões/ano. E, para quitar o que está vencendo, serão necessários mais de R$60 bilhões até 2016;
- O balanço do 1º trimestre de 2015 animou o mercado, pois a companhia alcançou um lucro líquido consolidado acima do esperado de R$4,5 bilhões após amargar um prejuízo no 4º trimestre de 2014 próximo a R$17 bilhões; Cabe destacar que a Petrobras obteve um resultado financeiro negativo de R $ 5,6 bilhões no primeiro trimestre de 2015, provocado por aumento de despesas financeiras de R$ 2 bilhões em um ano;
- Com relação ao futuro da companhia, o mercado está bastante cauteloso mesmo considerando o aumento da margem operacional no 1º trimestre deste ano, resultante da intensa queda do custo dos produtos por conta da baixa dos preços do petróleo. Entretanto, o endividamento traz fortes preocupações, criando um cenário de maior incerteza e cautela;
- As informações do Plano Estratégico 2015-2019 a ser divulgado em junho próximo devem levar em conta os preços atuais do petróleo elevados, corte drásticos nos investimentos e a questão do cambio fraco. Por outro lado existe a emissão de debêntures autorizada pelo CA no valor de R$3 bilhões, desafiando esforços de desalavancagem.
- Olhando para frente e levando em conta o sacrifício que os atuais acionistas fazem por não receberem dividendos, a Petrobras necessita adotar de uma vez as melhores práticas de governança corporativa, dando poder e independência ao CA, respeitando os acionistas de tal forma que problemas como corrupção e excessiva intervenção do Governo sejam no mínimo atenuados. Dessa forma fica possível imaginar uma “Nova Petrobras” gerando valor para seus acionistas e para a sociedade como um todo.