"A esquerda brasileira (e eu também) foi criada com a ideia de que, se algo não é estatal, não é bom. Uma parte importante do pensamento político brasileiro é assim, e no PSDB também"
Fernando Henrique Cardoso (ex-Presidente da República)
Em Nov/2015 publicamos um artigo sob o título “Estatais em Bolsa: Privatizar, extinguir ou disciplinar?”, onde opinamos que é na Governança que reside a maior fonte de divergência sobre a discussão do mundo privado versus estatal. O mercado pode até aceitar que uma Empresa Estatal, pela natureza de sua atividade trabalhe com distante horizonte de maturação, pode, igualmente, aceitar que o governo tenha confortável controle da gestão, mas, cada vez mais, mostra-se rebelde e hostil às falhas de Governança, traduzidas, sobretudo, pela falta de informações fidedignas e submissão a ditames políticos. Neste artigo reunimos informações sobre o desempenho de quatro grandes estatais, duas empresas e dois bancos, nos últimos três anos (2014 a 2016), sendo três listadas em bolsa. São elas: Petrobras, Eletrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.
Veja agora o que o nosso Banco de Dados SABE tem a mostrar sobre a evolução das contas patrimoniais e de resultados de 2014 a 2016, por meio de um “Radar” de indicadores financeiros das empresas citadas. Os comentários sobre cada empresa referem-se principalmente ao exercício de 2016, procurando mostrar a situação econômico-financeira dessas empresas em momento mais recente.
Elevado endividamento líquido, com prejuízo nos últimos três anos provocados por vários fatores, dos quais destacamos a forte intervenção do governo federal, além dos conhecidos problemas de corrupção; relação dívida líquida/EBITDA em patamar ainda muito alto, com destaque para ganho de margem EBITDA e melhoria de margem líquida e rentabilidade patrimonial, embora ainda negativas.
Expressivas recuperações de EBITDA e resultado líquido que se reverteu em lucro; baixa liquidez de curto prazo, elevada relação dívida líquida/EBITDA, ganhos expressivos de margens e rentabilidade; cabe o registro que o bom resultado em 2016 foi extraordinário devido principalmente a indenizações pagas a empresas de geração e transmissão do setor elétrico que aceitaram renovar concessões por mais 30 anos.
Expressivo aumento do Resultado Bruto da Intermediação Financeira que mais que dobrou de 2015 para 2016, mas que não foi acompanhado do resultado líquido que caiu 44% no mesmo período; perdas expressivas de rentabilidade, em especial o retorno do acionista que caiu mais de 9 pontos percentuais em relação a 2015.
Queda expressiva de 42% do resultado líquido de 2015 para 2016; quedas expressivas de rentabilidade, em especial o retorno do acionista que caiu quase 5 pontos percentuais em relação a 2015.
COMENTÁRIOS FINAISComo disse George Ford, político americano, “se o governo é grande o suficiente para lhe dar tudo o que você quer, é grande o suficiente para lhe tirar tudo o que você tem”. Observamos atualmente em nosso país uma mudança de natureza qualitativa na governança das estatais, em especial Petrobras e Eletrobras.
Petrobras com uma liderança competente já entregou no 1T2017 um lucro de quase R$5 bilhões, reduziu sua dívida para 4,5x a relação com EBITDA e busca vender ativos fora de seu foco principal para reduzir seu endividamento, além de demonstrar personalidade ao monitorar os preços dos combustíveis com independência.
Eletrobras sendo dirigida por um CEO do ramo egresso da 2ª maior empresa do setor (CPFL Energia), apresentou no 1º trimestre de 2017 um lucro de R$1,4 bilhões, também reduziu seu endividamento (6,4x em relação ao EBITDA). O resultado decorre, em boa parte, da contabilização de novas receitas relacionadas a indenizações devidas pela União à Eletrobrás desde a renovação antecipada de seus contratos de concessão. Essas indenizações foram geradas depois de medidas adotadas pelo governo federal em 2012 com o intuito de reduzir as tarifas de energia.
Com relação aos bancos em geral, e ao BB e CEF em particular, observamos uma situação diferente: com quedas expressivas nos lucros, os grandes ainda lograram resultados elevados e os pequenos, com raras exceções, sofreram os efeitos da recessão, tendo alguns amargado prejuízo. Por outro lado, já se começa a perceber a concorrência das chamadas “fintechs”, em geral, startups que desenvolvem inovações tecnológicas voltadas para o mercado financeiro e que entraram na arena oferecendo produtos e serviços com tarifas reduzidas, às vezes nulas para ganhar mercado.
A SABE Consultores tem a missão de “organizar informações financeiras sobre as empresas brasileiras e torná-las acessíveis e úteis” e acredita que as empresas conscientes atuam de maneira a criar valor não só para si mesmas, mas também para seus clientes, colaboradores, fornecedores, investidores, comunidade e meio ambiente ou usando o jargão do momento para seus “stakeholders”. Manteremos você atualizado com novas informações extraídas do nosso Banco de Dados SABE.
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Luiz Guilherme Dias é Sócio-Diretor da SABE Consultores, Consultor de Empresas e Conselheiro Certificado.